Entrevista com Isabel Barca sobre o ensino de história
Isabel Barca fala sobre o ensino de História
De acordo com a historiadora portuguesa, para
aprender de verdade, a turma precisa trabalhar com fontes históricas e
fazer conexões entre o passado e o presente
Muitas pessoas ainda acham que a disciplina de História é uma complexa
reunião de datas, fatos, lugares e personagens de outrora. Talvez por
isso se pense que a disciplina trata do passado longínquo de sociedades
das quais nem os estudantes nem os educadores participaram. Isabel Barca
mostra por que essa ideia é equivocada. Dedicada ao estudo do ensino de
História para a Educação Básica, ela defende a importância de um
trabalho em sala com recortes temáticos, que estabeleça ligações entre o
ontem e o hoje e faça dos alunos sujeitos históricos.
Faz sentido apresentar os fatos históricos em ordem cronológica ou esse é um modo de trabalhar ultrapassado?
ISABEL BARCA Ensinar
História de modo linear faz com que os estudantes lembrem somente os
marcos cronológicos. Com isso, a moçada se torna incapaz de relacionar
tempos distintos e compreender em profundidade o mundo em que vivemos. O
ideal é que o educador trabalhe em sala com recortes temáticos,
estabelecendo relações entre o passado e o presente, sem jamais
negligenciar a temporalidade. Se essas duas questões não forem levadas
em conta, a turma pode ter uma compreensão limitada da disciplina e da
história propriamente dita, formulando ideias vagas e genéricas, o que
contribui para o não-entendimento das causas e consequências dos
fenômenos estudados.
Como deve ser organizado um museu de sala de aula que contribua com a aprendizagem?
ISABEL Um museu
montado na classe pela criançada não pode ser uma seleção simples e
indiscriminada de objetos. Por conta própria, eles não dizem nada. Em
qualquer instituição desse tipo, a função das peças é dar pistas sobre o
passado, mas é fundamental valorizar as questões que os sujeitos
elaboram sobre elas. Além disso, é necessário organizá-las de forma
sistematizada, de acordo com critérios temáticos, cronológicos ou
espaciais. Elas também precisam ser identificadas: as questões
apresentadas no início de um estudo - para que serviam, quando eram
usadas e por quem - podem constar na identificação, que deve ser feita
sempre em parceria com a turma.
Como conduzir uma atividade de interpretação de objetos antigos?
ISABEL O professor
deve propor uma observação cuidadosa do objeto. Depois disso, ele tem de
fazer perguntas não muito complicadas para os alunos sobre o passado.
Podemos convidá-los a imaginar a vida das pessoas a quem ele pertencia.
Para que era usado? De que maneira? De onde essas pessoas eram? A
análise das respostas ajuda a entender até que ponto as crianças
ultrapassam a simples materialidade dos exemplares, se os relacionam com
uma comunidade e um estilo de vida e de que forma o fazem. É o início
de um pensamento histórico.
Investigar objetos de família ajuda as crianças a relacionar a história de vida delas com a História em geral?
ISABEL Sim, desde que
aprendam a pensar historicamente com esses utensílios, saindo do aqui e
agora. Para isso, o professor tem de ajudar o grupo a relacionar as
peças com outros tempos e pessoas que podem estar próximas deles em
termos geográficos e familiares, mas que tiveram outra forma de viver.
No entanto, não é satisfatório estudar somente o histórico da peça em
questão. É necessário ensinar a garotada a generalizar situações e
conceitos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário