segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Entrevista com Isabel Barca sobre o ensino de história

Isabel Barca fala sobre o ensino de História

De acordo com a historiadora portuguesa, para aprender de verdade, a turma precisa trabalhar com fontes históricas e fazer conexões entre o passado e o presente

Muitas pessoas ainda acham que a disciplina de História é uma complexa reunião de datas, fatos, lugares e personagens de outrora. Talvez por isso se pense que a disciplina trata do passado longínquo de sociedades das quais nem os estudantes nem os educadores participaram. Isabel Barca mostra por que essa ideia é equivocada. Dedicada ao estudo do ensino de História para a Educação Básica, ela defende a importância de um trabalho em sala com recortes temáticos, que estabeleça ligações entre o ontem e o hoje e faça dos alunos sujeitos históricos.

Faz sentido apresentar os fatos históricos em ordem cronológica ou esse é um modo de trabalhar ultrapassado?
ISABEL BARCA Ensinar História de modo linear faz com que os estudantes lembrem somente os marcos cronológicos. Com isso, a moçada se torna incapaz de relacionar tempos distintos e compreender em profundidade o mundo em que vivemos. O ideal é que o educador trabalhe em sala com recortes temáticos, estabelecendo relações entre o passado e o presente, sem jamais negligenciar a temporalidade. Se essas duas questões não forem levadas em conta, a turma pode ter uma compreensão limitada da disciplina e da história propriamente dita, formulando ideias vagas e genéricas, o que contribui para o não-entendimento das causas e consequências dos fenômenos estudados.

Como deve ser organizado um museu de sala de aula que contribua com a aprendizagem?

ISABEL Um museu montado na classe pela criançada não pode ser uma seleção simples e indiscriminada de objetos. Por conta própria, eles não dizem nada. Em qualquer instituição desse tipo, a função das peças é dar pistas sobre o passado, mas é fundamental valorizar as questões que os sujeitos elaboram sobre elas. Além disso, é necessário organizá-las de forma sistematizada, de acordo com critérios temáticos, cronológicos ou espaciais. Elas também precisam ser identificadas: as questões apresentadas no início de um estudo - para que serviam, quando eram usadas e por quem - podem constar na identificação, que deve ser feita sempre em parceria com a turma.

Como conduzir uma atividade de interpretação de objetos antigos?

ISABEL O professor deve propor uma observação cuidadosa do objeto. Depois disso, ele tem de fazer perguntas não muito complicadas para os alunos sobre o passado. Podemos convidá-los a imaginar a vida das pessoas a quem ele pertencia. Para que era usado? De que maneira? De onde essas pessoas eram? A análise das respostas ajuda a entender até que ponto as crianças ultrapassam a simples materialidade dos exemplares, se os relacionam com uma comunidade e um estilo de vida e de que forma o fazem. É o início de um pensamento histórico.

Investigar objetos de família ajuda as crianças a relacionar a história de vida delas com a História em geral?
ISABEL Sim, desde que aprendam a pensar historicamente com esses utensílios, saindo do aqui e agora. Para isso, o professor tem de ajudar o grupo a relacionar as peças com outros tempos e pessoas que podem estar próximas deles em termos geográficos e familiares, mas que tiveram outra forma de viver. No entanto, não é satisfatório estudar somente o histórico da peça em questão. É necessário ensinar a garotada a generalizar situações e conceitos.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Isaac Asimov prever o impacto da internet na humanidade

Esse cara é fantástico!

Simplesmente em 1988, Asimov fez previsões interessantíssimas sobre a tecnologia e a democratização do conhecimento na área social e educacional, revelando o que há de melhor nessa nova era das conexões.





PS.O vídeo está com legenda em espanhol, mas vale a pena fazer um esfoço para entender.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Injeção de Verba.

O programa Brasil Profissionalizado do Ministério da Educação dispõe este ano de R$ 320 milhões para investir na melhoria das redes estaduais de educação profissional em todo o país. Para receber os recursos, os estados e o Distrito Federal devem assinar convênios com o MEC. As verbas públicas são para reforma, ampliação, construção de escolas técnicas e aquisição de recursos pedagógicos.

O valor deste ano é superior ao de 2010 que foi de R$ 263,4 milhões. Parte do orçamento do Brasil Profissionalizado de 2011 será utilizada para novos convênios com o Distrito Federal, Amazonas, Rio de Janeiro e Rondônia, unidades da Federação que ainda não aderiram ao programa.

Os 23 estados que já assinaram convênios com o MEC podem apresentar novas propostas à medida que executarem os recursos repassados que somam R$ 1,5 bilhão. "A primeira meta é terminar as obras em andamento e consolidar as ações em curso", ressalta o secretário de Educação Profissional e Tecnológica, Eliezer Pacheco.

Das 176 escolas técnicas estaduais previstas para serem construídas com recursos do programa, 22 já foram entregues. Cada escola tem capacidade para atender, em média, 1,2 mil alunos.

Quando todas as escolas estiverem em pleno funcionamento serão geradas mais de 210 mil vagas, além daquelas que serão criadas pelas 532 obras de reforma e ampliação programadas. O objetivo é alcançar meio milhão de matrículas.

Assessoria de Imprensa da Setec

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Entrevista com David Buckingham na Nova Escola



Reprodução da entrevista com David Buckingham na revista Nova Escola, especial de 25 anos.

David Buckingham


Ao discutir mídia na sala de aula, muitos educadores entendem que sua principal missão é denunciar as mensagens nocivas dos meios de comunicação. Essa abordagem é eficaz?
DAVID BUCKINGHAM
Esse tipo de atuação era comum na década de 1970, quando comecei a dar aulas de mídia. Muitos livros traziam a noção de que as crianças eram consumidores passivos e nós deveríamos dotá-las de habilidade crítica para libertá-las das ideias ruins apresentadas pelos meios de comunicação. Com a prática, fui percebendo que essa imagem do professor que carrega uma tocha para iluminar os estudantes, desfazendo a escuridão e a ignorância, tinha muito de fantasia.

Por quê?
BUCKINGHAM
Primeiro porque, como muitas pesquisas mostraram nas últimas décadas, crianças e jovens não aceitam acriticamente qualquer coisa que veem na televisão ou internet. Não estou afirmando que eles sabem tudo: as capacidades de análise se desenvolvem com o tempo e variam conforme as experiências individuais. A segunda razão é que estudantes resistem quando há um adulto apontando o dedo e dizendo "você tem de fazer isso". Podem até jogar o jogo e dizer o que o professor quer ouvir: "Você está certo. E eu sei que a propaganda é ruim e a mídia está cheia de mentiras". O perigo, aí, é conseguir respostas cínicas em vez de críticas.


Como um professor que queira discutir mídia pode iniciar o trabalho?
BUCKINGHAM
Eu começaria investigando o que os estudantes conhecem sobre mídia e como se relacionam com ela. Uma sugestão inicial é apresentar um produto midiático simples, fácil de manusear e familiar às crianças. Um anúncio de TV, por exemplo. Propagandas costumam ter um texto muito rico, que inclui música, linguagem verbal e imagens, são complexas em termos de edição e levantam questões sobre como o público está sendo tratado - se somos encorajados a nos identificar com os personagens ou não, por exemplo. Apresente o anúncio e faça perguntas para reflexão: o que você achou desse anúncio? Gostou? O que fez você ter essa opinião? Em seguida, isole as diferentes partes: mostre só o áudio, depois a imagem sem o som, congele algumas partes e assim por diante. Ouça os alunos sobre o significado do anúncio e leve-os a pensar em quem o criou, para qual público, de que forma ele representa o mundo e se aquilo que está na propaganda corresponde à realidade da turma. Essa abordagem começa com a discussão de impressões subjetivas e vai progressivamente caminhando para algo mais analítico, fazendo os alunos pensarem sobre as características da linguagem publicitária.

Quais as vantagens de privilegiar esse tipo de atividade?
BUCKINGHAM
Você tem uma ideia clara de quais questões atacar. Fiz uma pesquisa com perguntas semelhantes a essas e descobri que crianças de 6 e 7 anos entendem o que é a propaganda, que ela está ali para vender coisas - embora não identifiquem que essa tentativa ocorra por meio do entretenimento - e que, na maioria das vezes, elas não são diretamente influenciadas pelos anúncios. Elas também têm noção de que aquilo foi concebido por um grupo de pessoas com um objetivo particular, mesmo que não saibam como um anúncio é feito, como funciona o mundo das agências de publicidade, que as pessoas pagam para colocar um anúncio na programação de TV etc. Esse conhecimento, o professor pode tornar disponível - desde que, é claro, possua algum tipo de formação na área, o que para mim é essencial.

O que significa, exatamente, ser crítico em relação à mídia?
BUCKINGHAM
Esse é um desses termos difíceis porque, implicitamente, tem uma conotação negativa. Se você diz "não gosto da cor da sua camisa", posso responder: "Acho que você está sendo muito crítico". Não uso a palavra nessa acepção. Para mim, ser crítico é pensar de modo reflexivo. Não apenas pensar algo, mas refletir sobre meus pensamentos, avaliar que elementos me levam a ter as ideias e opiniões que defendo.



Quando se fala sobre o conteúdo da mídia, o debate público se fixa em dois assuntos principais. O primeiro deles é a violência. Há algum estudo que prove que a violência na mídia causa a violência na vida real?
BUCKINGHAM
Há pesquisas, sobretudo nos Estados Unidos, que indicam essa relação. Mas também há muitas ressalvas a esses estudos. Metodologicamente, é problemático colocar a pessoa num lugar isolado, mostrar vídeos com imagens descontextualizadas de violência e então perguntar: "Você se sente violento?" As pessoas assistem a filmes de maneiras muito diferentes na vida real e num laboratório de Psicologia. Outro problema dessas pesquisas é que não se pode estabelecer, com clareza, uma relação causal: é a mídia que gera violência ou é uma disposição à violência que leva a pessoa a procurar conteúdos violentos?

Mas, de fato, parece haver muita agressividade na TV, no cinema e nos videogames.
BUCKINGHAM
As mensagens da mídia são muito mais diversas e complicadas do que isso. Algumas dizem que a violência pode ser necessária, que certos tipos de violência são legítimos, mas outras defendem que ela é ruim, que pessoas ruins cometem violência e assim por diante. Algumas pretendem ser muito realistas, enquanto outras não são feitas para a gente levar a sério: há diferença entre a violência nos telejornais, num filme de Arnold Schwarzenegger ou num desenho de Tom e Jerry. Mesmo assim, boa parte do debate se assenta no pressuposto de que esses tipos de violência são a mesma coisa. É mais cômodo culpar a mídia pela violência do que combater causas como a desigualdade e a facilidade para adquirir uma arma.

Outro assunto que preocupa é o conteúdo sexual. Ele pode levar ao sexo precoce ou inseguro?
BUCKINGHAM
Algumas das vozes mais elevadas dizem que a mídia glamouriza o sexo, que estimula os jovens a ser promíscuos, a ter práticas não seguras, a não valorizar os relacionamentos e, em relação aos meninos, a ser covardes e desrespeitosos com as mulheres. Há alguns anos, fiz uma pesquisa sobre o conteúdo sexual na mídia e, assim como no caso da violência, as mensagens são muito diferentes. Você encontra, sim, o sexo tratado como diversão e a ideia de mulheres - e, mais recentemente, homens - como objeto. Mas também há mensagens de que os relacionamentos são importantes e que são mais do que apenas sexo, bem como alertas para não fazer sexo jovem demais, usar preservativo e ter cuidado com as consequências. Sem contar que os jovens recebem outras mensagens, muitas vezes conflitantes com as dos meios de comunicação: observam o mundo, ouvem os pais, os amigos e, de vez em quando, até os professores. (risos) Precisamos entender o sentido que os jovens constroem com base nessas mensagens potencialmente contraditórias.

Qual é o maior desafio em relação ao uso das mídias e da tecnologia em sala de aula?
BUCKINGHAM
Para mim, o grande problema é que os professores estão usando a tecnologia de modo muito instrumental, apenas como uma ferramenta. Há a crença de que a tecnologia na aula funciona como um pó mágico dos contos de fadas, automaticamente motivando os alunos a aprender apenas por ela já fazer parte da cultura de crianças e jovens. Isso não ocorre, entre outras coisas, porque há uma enorme distância entre o que eles fazem com a tecnologia fora da escola e o que são convidados a fazer dentro dela. Na vida cotidiana, o uso do computador é basicamente para a comunicação e o entretenimento. Mas, em aula, os professores apostam em softwares educacionais, que em geral não atraem a turma. Num jogo de computador para ensinar Matemática, as crianças e os jovens resolvem o mínimo do conteúdo e partem logo para a diversão - e muitas vezes reclamam que o jogo é menos interessante que um "de verdade".



Em tempos de internet, qual é o papel do professor?
BUCKINGHAM
Ele é fundamental para ajudar as crianças a perceber que os conteúdos de qualquer mídia - seja nova, como a internet, seja velha, como a TV e os livros didáticos - não nos trazem o mundo, mas uma versão dele. É perguntar sempre: de quem veio essa informação? Quais são os interesses de quem a divulgou? De que forma ela representa o mundo? É confiável? Como podemos comparar essa informação com outras fontes? Também é preciso pensar em seu design porque muitas vezes é a linguagem visual que nos leva a confiar em determinado dado. Além disso, o docente tem o papel de municiar os estudantes com conhecimentos necessários até mesmo para poder julgar uma informação. Você pode me chamar de fora de moda, mas ainda acredito que existam fatos. (risos) O professor tem de socializá-los. Se não, corremos o risco de, por exemplo, acreditar nos sites que dizem que o Holocausto nunca ocorreu.

A tecnologia pode reduzir a autonomia do professor?
BUCKINGHAM
Há esse risco. Por um lado, a tecnologia apresenta mais caminhos para aprender, permite uma maior personalização do conteúdo e ajuda na comunicação entre educadores, pais e alunos. É o caminho a ser buscado. Por outro lado, algumas experiências concretas têm apontado uma situação diferente.Na Grã-Bretanha, cada vez mais o governo não apenas coloca metas e padrões a serem alcançados mas também diz: "Você vai ensinar assim, num currículo centralizado, de acordo com determinado sistema. Nós proveremos os recursos didáticos e também o plano de aula". Nesse contexto, a tecnologia também pode ser usada como um instrumento de vigilância e de controle. Há potencialmente um grande perigo aí. Trabalhei por bastante tempo com a formação de professores e uma das coisas que está clara é que o bom ensino acontece quando os professores são donos daquilo que eles querem ensinar, quando dominam o conteúdo e sabem por que ele é importante, incentivando os alunos a aprender. E o ensino ruim acontece quando o professor está apenas seguindo uma rotina, uma série de procedimentos. Isso parece Educação, mas não é.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A interação usuário-internet na educação.

Com a expansão da chamada "internet 2.0", a interação de usuários com a própria rede chegou a níveis antes nunca pensados. Usuários que antes eram apenas "contemplativos" e não tinham um grau de interação alto com os sites, agora possuem a ferramenta da mudança, literalmente, ao alcance dos dedos. Com um único clique o usuário pode inserir-se na rede e explanar suas visões e opiniões a respeito os mais variados assuntos e temáticas. Um exemplo claro disso são sites como wikipédia, blogs e fotologs, onde o usuário tem total abertura de publicar o que quiser. É a interação em altíssimo grau.

Falando mais especificamente da wikipédia, site fundado em 2001, é uma enciclopédia multilíngue online, livre, colaborativa, ou seja, escrita internacionalmente por várias pessoas comuns de diversas regiões do mundo, todas elas voluntárias. Qualquer artigo ou adição aos temas pode ser feito por qualquer pessoa, desde que tenha um cadastro feito no site, ação essa que pode ser concluída em poucos minutos.

A tarefa principal é levar essa interação do aluno para com a rede, para dentro da sala de aula. Trazer o conceito de participação e colaboração que, em teoria, deveria ser empregada dentro da instituição de ensino, também para a ferramenta de internet. Afinal, é dever da escola e dos professores incluir o aluno nas mudanças ocorridas na sociedade; nesse caso, na sociedade da informação. A wikipédia é apenas um exemplo de como o diálogo do conhecimento tornou-se cada vez mais dialético. Resta aos alunos serem incutidos de sua inestimável importância nesse processo.